29.10.10

 
Prometo ser fiel


─ Oi, amor.
─ Eu
─ Pode falar, ele não tá aqui.
─ Te recebo
─ O imbecil? Foi prum casamento de um amigo.
─ Como meu legítimo esposo
─ É, ele ainda acredita nessas coisas.
─ E prometo ser fiel
─ Eu deixei de acreditar já no segundo mês.
─ Na alegria
─ Depois que conheci você.
─ E na tristeza
─ Ou, em outras palavras, depois que descobri a felicidade.
─ Na saúde
─ Não, o traste tá muito mal, mas insiste em sobreviver.
─ E na doença
─ Rezo todos os dias praquele fígado podre se corroer na cirrose de vez.
─ Amando-te
─ Corno cachaceiro desgraçado!
─ E respeitando-te
─ Não, hoje não dá. Depois do casamento ele volta. O infeliz sempre volta.
─ Todos os dias
─ Mas esse sofrimento logo vai acabar.
─ Da minha vida
─ E aí finalmente eu vou poder ser feliz de verdade junto com você. Até o fim da minha vida. Eu prometo.

21.10.10

 
Vendem-se (no estado em que se encontram*)


Homem

35 anos, pardo, 1,75m, 83kg e barriga de chope. Dentição normal; uma cárie aqui e ali. Inteligência mediana (não perde o futebol às quartas e domingos, toma “umas brejas” toda sexta com os amigos e lê 2,17 livros por ano, sendo um do Paulo Coelho). Não vai ao teatro, cinema ou exposições (não se importaria se a Bienal fosse a cada 20 anos).
- Hobby: dormir.
- Principal característica psicológica: não ter psicologia.
- Humor: inexistente.
- Sonho: ser alguém.

Mulher

28 anos, branca, 1,70m e 69kg (sim, depressão engorda). Dentição desconhecida (ela nunca ri). Inteligência elevada, o que não a livrou de fazer a burrada de se casar com ele. Lê 11,99 livros de autoajuda/ano. Não quis ter filhos (pra que transmitir desgraça?).
- Hobby: sonhar.
- Principal característica psicológica: ( ).
- Humor: o que é isso?
- Sonho: poder dormir.

Casal

Embalagem econômica: R$ 1,99 (preço de ocasião, pois os dois tão loucos pra mudar de vida).



* Não aceitamos devoluções.

16.10.10

 
Agora eu me sinto assim


90,00000001



(Parafraseando Sarah Keane.)

6.10.10

 
Cela de menor II


Não sei o que vai ser de mim.
E problema deles se eles também não sabem.
Eu, a “menina do Pará”, virei a garota que não para em lugar nenhum.
A criança-problema recusada por vários estados.
Querem me prender em clínicas de viciados? Eu fujo.
Querem que eu fale que eles me protegem? Não finjo.
Querem mostrar que o governo cuida bem das crianças? Eu cresci!
Com 18 anos, subi na vida. Não sou mais um “problema de menor”. Sou dona de mim. Dessa merda de vida de bosta. Que é uma droga, mas é minha agora.
Tô nem aí se a clínica tinha piscina, sauna e cinco rangos por dia.
Sou mais a cracolândia. Onde as pedrinhas custam apenas um programa. Cincão por dez minutos. Tá... Três quando tô muito noiada.
Mas geralmente pagam cinco mesmo. Os caras de lá me dão valor. Ao contrário daqueles 26 da cela que me estupraram de graça. Todo dia. Égua... Por 26 dias.
Hoje ganho pra ser estuprada.
Aqui na Ceilândia, eu é que sei de mim.

3.10.10

 

Minifato XVII
(a realidade goleando a ficção)


“Em defesa de urubus, dois se algemam na Bienal.”

Enquanto isso, Tiririca recebe mais de 1 milhão e 300 mil votos e torna-se o segundo deputado federal mais votado na história do Brasil.


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