23.12.10

 
Luzinhas


Sobe-a-Augusta,-dobra-na-Paulista e tenta caminhar até o ponto de ônibus desviando das pessoas, dos camelôs, do tumulto, da euforia com o natal cegamente reluzente nos prédios-enfeites que atraem olhares, sorrisos, “ohs!”, flashes e pessoas vendo o natal transformado em zilhões de pisca-piscas que formam ursinhos que viram pinguins, que viram pássaros, que viram morcegos, mas não, eles não viram isso, só o mau humor dele vê isso e o trânsito parado ─ a Paulista está ali, mas sumiu: quase impossível chegar ou sair dela ─ e o ônibus vindo e o ônibus parado e mais tempo sendo forçado a olhar as luzinhas e o clima natalino e os faróis dos carros que buzinam pros pais-crianças-sogras que param pra tirar fotos das luzes vermelhas como as cotações da bolsa, como o preju que teve, como seu saldo no banco e lembra das contas a pagar – a de luz! ─ e quer chegar à sua casa, só quer voltar logo e entrar no quarto, fechar persianas, cortinas, porta e fechar-se todo na escuridão total.

17.12.10

 
11 Pontos de alagamento III


1° Já começou de novo?

2° Ou jamais terminou?

3° Tanto faz. Inundação de reclamações não tira voto de ninguém. A maior prova disso é que continuo aqui no governo.

4° E não tô nem aí pra vocês.

5° Que insistem em não aprender com o tempo.

6° Em continuar existindo uma inexistência que deu muito mais do que tinha que dar; incluindo pirralhos que já nascem fazendo o teste do pezinho na lama.

7° E que marcarão a trilha vitoriosa das minhas futuras-eternas reeleições e ganharão destaque na imprensa marrom.

8° Que comem barro à milanesa na merenda porque as doações dos que se preocupam com vocês (sim, os há) foram desviadas.

9° E saem nos jornais indignando a esquerda e a classe média; os mesmos que serão esquecidos e virarão edredom de peixes podres (pode um pobre podre comer algo mais fétido e podre?).

10° E os levarão, num grande carro branco (olhem que chique!) pras UTIs dos hospitais que (acho) farei; cheios de vaselina.

11° Numa ala especial: a dos largados e alagados.

11.12.10

 
MakLeys Cabeleireiros


Corte - - - - - - - - - - - R$ 15,00
Pontas - - - - - - - - - - R$ 7,50
Mãos - - - - - - - - - - - R$ 10,00
Pés - - - - - - - - - - - - R$ 12,00
Corpo inteiro - - - - - - R$ 6,00
Unhas - - - - - - - - - - R$ 10,00
Unhadas - - - - - - - - - R$ 5,00
Escova definitiva - - - - R$ 25,00
Cova permanente - - - R$ 12,50
Tintura - - - - - - - - - - R$ 20,00
Tortura - - - - - - - - - - R$ 10,00
Laquê - - - - - - - - - - - R$ 18,00
Laqueadura - - - - - - - R$ 9,00
Lavagem - - - - - - - - - R$ 6,00
Lavagem p/ comer - - - R$ 3,00
Apliques - - - - - - - - - - R$ 40,00
Apliques com 171 - - - - R$ 20,00
Tranças - - - - - - - - - - R$ 40,00
Traças - - - - - - - - - - - R$ 20,00
Tratam. anticaspa - - - - R$ 17,00
Tratam. anticuspe - - - - R$ 8,50
Depilação - - - - - - - - - - R$ 20,00
Despiração - - - - - - - - - R$ 10,00
Limpeza de pele - - - - - R$ 70,00
Tiragem de pele - - - - - R$ 35,00


Dividimos TUDO em 3 vezes!!!

2.12.10

 
Parada de Lucas


Sob o céu anil-fuzil que encobre os pobres da Parada de Lucas, Lucas vê: as vielas estreitas que vão dar (acha) em algum lugar pra onde ele deve ir porque ficar ali é perigoso, pode ser preso, baleado, atropelado, torturado, queimado, confundido com vagabundo, com traficante fugindo, logo ele que trabalha, cartão de ponto, quatro “busão” por dia, vale refeição que vira vale coxinha pra sobrar pras compras no mercadinho de portas fechadas por causa dos caveiras do Bope que tão subindo o morro e o Ibope da Globo, e descendo o cacete em todo mundo e perguntando depois, e atirando antes, e ele ali, e helicóptero revoando, e arma-metralhadora-tanque-de-guerra, e as vielas-vidas se estreitando, e cadê a saída? e a polícia-milícia-malícia invadindo barracos, quebrando tudo, e traficante fugindo, e o Ibope subindo, e ele sem ter pra onde ir, e resolve sair, e quer correr, correr muito, mas agora? agora que o conflito explodiu e a bala che
Lucas fica parado.
Pra sempre.

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