24.12.17

 
Contrato


(Vendo o cardápio)

“Já escolheu?”

“Dando a real?
Quer saber mesmo?
Já.
Queria que esta porra toda acabasse agora.
Que parasse de fingir que posso pedir o que quiser, enquanto pensa:
‘tomara que a filha da puta não escolha camarão. Lagosta. Merdas caras. De frutos do mar já basta piranha.’
Queria chamar logo a pizza de muçarela que você tá rezando pra eu pedir.
Que contasse só duas piadinhas sem graça, em vez das quinze que vai falar, me obrigando a mostrar um sorriso tão amarelo quanto o queijo.
Que não entrasse num lixo de hotel como esse Bali pulguento (motel nem pensar).
Nem tentasse dar a segunda quando a primeira já foi uma merda e meu gozo mereceu Oscar de melhor atriz.
Que me deixasse em casa sem falar que me adora e vai ligar depois.
Não vai.
Que a gente até casaria se eu fosse uma dondoca tão escrota quanto suas amigas que curtem férias em Bali.
Não o hotel, claro.
Queria acabar com esse teatro que faz meu sofrimento demorar absurdamente mais.
Até porque já está tudo no contrato.”


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